Realidade ou especulação: o mercado está em crise ?
É preciso analisar o cenário com cuidado e deixar de lado motivos rasos para justificar um movimento forte que pode estar surgindo no Brasil. Muitos ainda culpam a pandemia por uma possível crise no setor de shows no país, mas o que será que realmente está acontecendo? Logo após a covid-19 a oferta de eventos era menor e tinha muita gente querendo se divertir, as pessoas estavam menos exigentes, era mais fácil vender ingresso. Como a oferta cresceu absurdamente, é natural que o mercado se ajuste.
Se existe demanda, o mercado avança pra atender: é o que conseguimos perceber pelos números. De acordo com o projeto Mapa dos Festivais, um levantamento identificou que o Brasil teve 298 festivais de música em 2023. Isso dá 138% a mais que em 2022. E mais, 71 foram realizados pela primeira vez. Ou seja, a oferta de festivais mais que dobrou no Brasil em um ano!

No entanto, uma coisa não se pode negar: está cada vez mais difícil e caro se divertir com segurança nos grandes shows. Valores absurdos nos ingressos, dificuldade de locomoção, preços abusivos nas comidas e bebidas são alguns dos pontos críticos de um festival de música.
Os empresários precisam pagar seus custos e é claro obter lucro. Fora o risco do investimento, onde qualquer deslize, mudança de temperatura, entre outras variáveis mudam completamente o cenário no dia do show. O prejuízo quando vem é pesado! Olhando pra tudo isso, é preciso entender que, diante da concorrência, tanto produtoras quanto artistas precisam oferecer mais ou cobrar menos, o que com certeza, é um grande desafio nos dias atuais.
Os artistas estão cobrando valores altíssimos nos cachês, muitos são sócios dos eventos nas bilheterias, diversas regalias, avião particular (alguns fretados), hospedagens, alimentação e um excesso de mordomias muitas vezes desnecessárias e/ou subutilizadas.
O excesso de verba pública pela Lei Rouanet deixou muitos empresários e artistas mal acostumados. Patrocinados também pelo governo o lucro é certo e grande, mas os olhos são ainda maiores. Uma hora essa torneira será/precisará ser fechada.
Por outro lado vem as produtoras dos eventos. Não se pode negar que para montar uma estrutura de qualidade custa caro, segurança, mão de obra qualificada do Staff, tudo isso precisa ser custeado por parte da bilheteria, patrocinadores e pela venda das bebidas, onde chegamos no calcanhar de Aquiles de muitos eventos. Bebidas com preços de 8 a 10 vezes mais caro que encontrado no mercado.
Se em 2024 começaram cancelamentos ou adequações ao mercado, não necessariamente isso pode ser chamado de crise, mas muito provavelmente um indicativo que estejamos perto de um ponto de equilíbrio entre o que seria bom para artistas, produtoras e público.
São 18 festivais já cancelados no Brasil só em 2024. Para dizer que a bolha de shows de fato teria estourado, seriam necessários vários eventos esvaziados, com fracassos consecutivos e uma mudança de comportamento do público.
Seria, então, apenas a ponta do iceberg?
Parte 1
Rogério Parente
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